Abstract
Alguns eventos políticos transcorridos em um passado recente de uma nação, como uma ditadura militar, que perdurou durante vinte e quatro anos, produzem sequelas aparentemente invisíveis, com sintomas cuja origem é difícil de ser diagnosticada. A dificuldade desse diagnóstico está na razão de que, para muitos, a ditadura militar ocorrida em solo brasileiro se aproxima do não-Ser de Parmênides: impensável e indizível, algo que simplesmente deve ser esquecido. Mas como reconciliar-se com o nosso passado e construir bases sólidas de uma nova democracia se não falamos e refletimos sobre nossas mazelas fomentadas, fundamentalmente, em “nossos campos”, nos porões dos DOPS? O presente artigo tem como objetivo refletir acerca de algumas características constitutivas da ditadura militar brasileira, transcorrida entre os anos de 1964 a 1988, balizada pelos conceitos de estado de exceção, vida nua e campo do filósofo italiano Giorgio Agamben. A pesquisa se justifica, uma vez que, em nosso entendimento, aproximar a ditadura militar brasileira com tópicas da filosofia política de Agamben, nos dota de importantes ferramentas argumentativas que nos auxiliam na compreensão do que se passou no Brasil em seus “anos de chumbo”.