Abstract
A literatura económica portuguesa da segunda metade de Oitocentos dedica particular atenção ao papel dos agentes económicos no processo de criação de riqueza e bem-estar. A reflexão então produzida procurou chamar a atenção para os problemas associados ao crescente progresso material e aos dilemas e sortilégios de uma civilização “perigosamente” moderna e paradoxalmente decadente. Em muitos casos, estes textos ultrapassaram a simples exposição doutrinária ou o propósito de divulgação, situando-se em aspetos concretos da realidade económica nacional, relativamente à qual se revelou clara a intenção de diagnosticar os principais problemas e propor soluções, julgadas pelos seus autores como as mais adequadas. Temas como o mercado e o Estado, a liberdade e a justiça, a pobreza e a questão social ocuparam um lugar de destaque nestas reflexões, que eram movidas pela necessidade de encontrar equilíbrios económicos e sociais numa sociedade em que a cada dia era mais evidente o agravamento das condições de vida de uma camada cada vez mais extensa da população, ligada à indústria em desenvolvimento e às áreas urbanas. As páginas que se seguem procuram documentar as características marcantes destes textos, na convicção de que o seu estudo pode ser encarado como elemento fundamental para a compreensão do processo de divulgação e institucionalização da economia política junto de uma elite esclarecida.