Abstract
Definida desde Cícero como “diálogo entre ausentes” a epístola tem um lugar destacado entre os gêneros em prosa da Antiguidade, justificado na preceptiva humanista não só quanto ao seu estilo, disposição e tópicas, como principalmente quanto ao modo de imitação. Concebida como “a metade de um diálogo'` (Poliziano, Tasso), a partir de Erasmo e de Vives a epístola é tida como uma produção letrada, pública, apta a ser colecionada em epistolários. É neste sentido que se torna um dos gêneros diferenciadores do Renascimento e reconhecido como aquele que com mais perfeição e viveza imita a conversação entre amigos ausentes ( sermu amicorulm absentium ). O modo de escritura em primeira pessoa aparece então como partícipe daquele diálogo, da confissão e da lírica, como o mais adequado para a exposição ético-patética de matérias “graves” entre iguais. O estudo, a análise e a interpretação de epístolas e cartas do século XVII, assim, não prescindem das considerações de gênero que a informam e pelas quais se constituem como tal