Abstract
No Protágoras, de Platão, ao defender a sua concepção segundo a qual a virtude se ensina, o personagem que dá nome ao diálogo faz uma breve exposição do que seria a educação tradicional em seu tempo e atribui a ela, aos costumes e às leis o poder de promover nos cidadãos a conquista das virtudes cívicas fundamentais, ainda que destaque a necessidade do concurso da coerção. Uma comparação com a proposta de educação visando às mesmas virtudes na República mostrará uma notável semelhança entre as duas concepções. Porém certas diferenças fundamentais também se fazem notar. O sofista do primeiro diálogo mencionado parece muito mais otimista do que o Sócrates do segundo quanto à possibilidade de promover a virtude. O que parece patente é que, segundo esse Sócrates, é necessária uma intervenção muito profunda na educação e nos costumes antes que se possa esperar que os homens adquiram e mantenham as virtudes cívicas fundamentais. Essa intervenção parece fundada num profundo conhecimento da alma humana e das forças em jogo nela. Parece também fundada em uma compreensão de como intervir na alma para promover o ordenamento que tornará possível a virtude