Abstract
No presente artigo, proponho uma discussão sobre como é possível distinguir o íntimo e o público no âmbito do dizer. Para dar conta desta problemática, quero desenvolver uma hipótese autoral, a qual está baseada na suposição de que, nos múltiplos dizeres, o íntimo e o público podem ser diferenciados, caso possamos escrutinar num dizer o que nele é narrado e o que nele é discursado. A partir das discussões linguístico-filosóficas sobre a distinção entre narrativas e discursos; e na esteira das leituras que fez Merleau-Ponty da noção psicanalítica de simbolismo autônomo como pulsão, proponho-me a mostrar que, no campo do dizer, a intimidade e a coexistência são as duas caras com as quais se apresentam as outridades, pois, no campo do dizer, as outridades não são mais que pulsões que discursam e que narram. De onde então proponho a distinção entre outridades discursivas e outridades narrativas. A intimidade diz respeito às outridades discursivas. A coexistência está relacionada com as outridades narrativas. Em ambos os casos, trata-se de uma tentativa de pensar o dizer mais além dos modelos baseados na ideia de evidência do eu.