Abstract
A tradução de textos filosóficos constitui um elemento central, embora geralmente negligenciado, da constituição do campo filosófico em cada época e dentro de uma determinada tradição lingüística. As traduções, antes de tudo, contribuem para a formação e a renovação do corpo de conceitos sem os quais não há pensamento articulado, nem especulação, nem a emergência do novo. A Idade Média, especialmente com as traduções arabo-latinas e greco-latinas dos séculos XII-XIII, fornece-nos uma poderosa ilustração do contributo das traduções para. a formação do léxico filosófico e sobretudo para a renovação literária e científica da filosofia. Nesses séculos não assistimos apenas à recepção de uma biblioteca até aí desconhecida em latim, mas sobretudo à constituição de uma rica e dinâmica reserva de conceitos. É sob o impulso das traduções que se abre e se constitui no final da Idade Média outra tradição filosófica, no interior da qual germinarão, também por via de tradução para as novas línguas latinas e anglo-saxónicas, as múltiplas linhagens filosóficas modernas e contemporâneas.