Abstract
Darcy Ribeiro 100 anos. Grandeza de Darcy. Grandeza como paradoxo, em meio a um povo ainda pequeno, ou menor do que seria. A ele, Darcy se devota: procura pensá-lo, configurá-lo, dar voz à sua ‘ninguendade’, confunde-se a ele do início ao fim. O centenário, via de regra, é momento de ressaltar um legado. Mas como, se o próprio Darcy se disse, mais de uma vez, derrotado? Essa derrota é porém cheia de encantos, encrustada em vários dos grandes eventos do país e do mundo, ou mesmo pessoais: amores. De Darcy, talvez se deva dizer o que Deleuze disse de Proust: um processo de intensa liberação de signos. Cuja decifração confunde-se, em parte, com o próprio enigma brasileiro dos últimos cem anos. Voltar a Darcy é voltar a pensar a nossa ontologia frustrada, o nosso ainda não-ser. Darcy enfrentou a tudo como grande vivente. Talvez sejam precisos mais cem anos para nos aproximarmos melhor da sua imprudência.