Abstract
A gestão da Covid no Brasil está entre as piores do mundo, com número de óbitos inaceitavelmente alto. É inclusive estranho que esses resultados não tenham sido capazes de disparar entre os brasileiros nenhuma mobilização social mais decisiva. Não obstante o reconhecimento da importância do debate mais estritamente político, o objetivo deste artigo é ensaiar uma reflexão fenomenológica sobre a respiração, tendo Heidegger como referência principal. A Covid é afinal uma doença respiratória, que nos convida – ou deveria convidar – a pensar sobre a respiração sob perspectivas históricas, ontológicas e existenciais. São dois os temas a discutir: nossa empobrecida relação com o respirar, e a dificuldade de, mesmo diante de mais de 600 mil mortes direta ou indiretamente causadas no Brasil por asfixia – e mais de 5 milhões no mundo –, encontrarmos caminho para discutir o assunto com mais profundidade.