Abstract
Neste ensaio realiza-se ponderações acerca do texto A Incapacidade para o diálogo de Hans-Georg Gadamer ([1972] 2011), discutindo-o e analisando-o à luz das configurações sociais e antropológicas contemporâneas. Para tanto, propõe-se um duplo movimento em que discorre-se sobre a dimensão formativa do diálogo na perspectiva hermenêutica e, posteriormente, analisam-se alguns elementos que caracterizam a sociedade contemporânea, entre as quais destaca-se a consolidação de uma racionalidade neoliberal e a siliciocolonização do mundo. Observa-se que as mudanças antropológicas, ontológicas e sociológicas decorrentes das reconfigurações nas esferas mercantis e produtivas acentuam um processo de instrumentalização da linguagem que, consequentemente, torna os indivíduos menos propensos a relações dialógicas. Tal inferência possui implicações éticas e, sobretudo, sociais, à medida que um indivíduo não propenso ao diálogo tende a tornar-se solipsista e incapaz de estabelecer laços sociais duradouros. Assim, a incapacidade para o diálogo comporta em si a gênese da morte do homem público e a ruína civilizacional.