Abstract
Este ensaio defende a hipótese segundo a qual a metafísica platônica não pode ser exclusivamente definida a partir de seu objeto, as Formas ou Ideias, mas também deveria ser tomada a partir de seu método, o qual se realiza lidando com as Formas como instrumentos metodológicos quer para definir as próprias Formas no nível inteligível, quer para definir as Formas instanciadas nos objetos sensíveis. Em um primeiro momento, argumento de modo geral que a metafísica platônica, por sua herança socrática e parmenídica, é um método que tanto opera com quanto visa conhecer as Formas. Em um segundo momento, apresento o pano de fundo a partir do qual essa interpretação se torna possível: a metafísica platônica como investigação das condições que tornam possíveis as relações dos seres humanos consigo mesmos, com os demais indivíduos e com o mundo natural e histórico em que vivem. Também defendo que tais condições são apenas pesquisáveis através do diálogo filosófico, como um “espaço” privilegiado onde essas mesmas relações podem ser explicitadas. Em um terceiro momento, apresento um percurso textual para corroborar esta interpretação. Nesta parte, analiso inicialmente o nascimento do método das Formas a partir do elenchos socrático nos diálogos da primeira fase, mas especialmente tomando em atenção o diálogo Mênon. Depois analiso a introdução da noção platônica de filosofia como método hipotético no Fédon. Em seguida, passo a uma análise da apresentação do método dialético em República VI. Depois disso, analiso o método das Formas no Parmênides. Por fim, abordo como este método se configura nos diálogos Sofista e Político. Dentre as conclusões gerais que se pode retirar desta interpretação, acredito que uma das mais importantes é apontar que há uma necessária circularidade epistêmica (manifestada em diversos sentidos) na metafísica platônica como método das Formas.