Abstract
Propomos traçar um paralelo entre tradução e testemunho, a partir das contribuições que Jacques Derrida legou a ambos os campos da linguagem. Na perspectiva desconstrutivista, a tradução, tema caro ao pensamento derridiano, acontece no limite impreciso entre a sua impossibilidade e a sua necessidade. Essa aporia tradutória atravessa as leituras do filósofo acerca do gesto testemunhal. Como afirma em Demeure (2000), ao apresentar-se como único sujeito a presenciar uma verdade, a testemunha recusa a traduzibilidade e a possibilidade a ela atrelada de proliferação de sentidos. Contudo, Derrida (1992, 2000) argumenta que o testemunho só tem valor quando é traduzível, iterável e, assim, comunicável. A testemunha luta com a língua para traduzir uma verdade, tentando escapar da inevitável disseminação de sentidos. Pretendemos discutir que tal condição aporética é testemunhada pelo tradutor em sua tarefa.