Abstract
Proponho uma cosmovisão especial cujo ponto de partida é a teoria sobre o duplo tipo
de conhecimento que os seres humanos possuem: o primeiro é o conceitual (que também
chamaremos categorial ou abstrativo) e o segundo é o holístico. Com o primeiro tipo de
conhecimento (conceitual), o indivíduo impõe suas próprias categorias (também chamadas
formas, estruturas ou Gestalt2
) aos dados que recebe através dos sentidos. Quando ele sabe por
dentro, mediante essa primeira modalidade, o que ela realmente faz é interpretar a realidade.
Em contrapartida, com conhecimento holístico (também chamado de intuitivo), o sujeito
consegue se desfazer (mesmo parcialmente) de suas próprias categorias e consegue um
vislumbre do ser e da verdade. A verdade consiste nesse desvelamento do ser, que tem sido
escondido por nossas próprias categorias cognitivas. A partir daqui podemos inferir algumas
ideias típicas nesta cosmovisão integradora.
a) A Filosofia consiste em um tipo de lente através da qual cada assunto imprime uma
cor, um valor, uma estruturação especial (positiva ou negativa) para as coisas, pessoas e as
situações que elas vivem. Isso é explicado com a teoria da matéria e a forma do conhecimento
(que é uma aplicação de hilemorfismo, já explicado em Aristóteles): o assunto são os dados
recebidos do lado de fora; a forma é a estrutura (lente) que o sujeito aplica sem perceber. O fenômeno percebido é a fusão desses dois elementos, e assim portanto, já contém a coloração
aplicada pelo sujeito. Dessa forma, o ato de conhecer se torna no ato de interpretar os objetos
ao seu redor de acordo com suas próprias lentes, que ele adquiriu ao longo de sua vida, com
educação, ambiente e os padrões que recebeu. Cada indivíduo geralmente cai na ilusão de
possuir a verdade definitiva. E, portanto, quando outros julgam as coisas de outra maneira,
conclui que elas estão erradas, sem perceber o efeito de individualização que tem seu próprio
mecanismo cognitivo. O estudo da Filosofia nos inicia nessa consciência sobre a qualidade
interpretativa do nosso aparelho cognitivo.
b) O conhecimento holístico ou intuição é alcançado quando um sujeito abdica, mesmo
parcial e temporalmente, das próprias estruturas e categorias que normalmente usa em seu
conhecimento conceitual. Podemos mencionar cinco grandes tipos de intuição: empatia, a
experiência estética, a experiência axiológica, a experiência mística e a experiência criativa. A
empatia consiste em capturar as categorias usadas por um interlocutor. Isso é possível quando
dispensamos nossas próprias categorias e "nos colocamos nos sapatos do outro”. A experiência
estética consiste em captar a harmonia intrínseca de um objeto. Isso é possível quando nos
despojamos de nossas próprias lentes, que de alguma forma desfiguram a realidade presente. A
experiência axiológica consiste em capturar os valores intrínsecos do objeto que se tem oposto.
É semelhante à experiência estética, mas em um nível mais geral, porque não apenas o valor da
beleza é percebido, mas também outros valores, como a verdade, bondade, virtude, etc. A
experiência mística consiste em perceber novas soluções, novos relacionamentos, nova síntese
de elementos previamente conhecidos.
c) Cada indivíduo gera sua cosmovisão pessoal de acordo com as categorias (formas ou
Gestalten) que gradualmente acumula ao longo de sua vida. Nessa visão de mundo, são
instalados diversos valores, princípios, padrões éticos, padrões de conduta e outros elementos
que caracterizam cada indivíduo. O realismo, idealismo, teocentrismo, pessimismo, a luta
contra a alienação e o estabelecimento da própria liberdade são o resultado das formas
assimiladas. Todo mundo vê as coisas e as pessoas com suas próprias lentes. A Filosofia
proposta aqui explica essa diversidade de posições diante do mundo; é uma nova lente que
vislumbra o efeito interpretativo de todas as lentes cognitivas; é uma lente integradora das
outras posturas. Quem se tornar um adepto desta filosofia, torna-se mais tolerante e
compreensivo com respeito as diferenças resolvidas pelos outros. Na realidade não há inimigos,
apenas diversidade de pontos de vista. Essa é a Filosofia integradora proposta aqui.
d) Uma das principais consequências de tudo isso é a tese de que: "de acordo com sua
filosofia, assim será sua felicidade". De fato, existem certos conceitos dentro da filosofia de cada um que desfigura completamente a realidade, e com isso, as experiências adquirem um
tom exagerado no plano emocional. A neurose consiste na arte da vida amarga de acordo com
a filosofia da pessoa. O neurótico insiste em atribuir toda a culpa por seus infortúnios às
circunstâncias e outras pessoas, e geralmente não percebe que a raiz de sua angústia vem de sua
própria filosofia. A psicoterapia, no fundo, é a arte de mudar essa cosmovisão, os critérios de
uma pessoa. "Não são as coisas que nos fazem sofrer, mas o que pensamos sobre elas", diz um
famoso ditado latino.
e) Quanto ao indivíduo, devemos distinguir a pessoa e personalidade. A pessoa é o
núcleo interno, seu verdadeiro eu, sua energia permanente. Por outro lado, a personalidade é a
maneira pela qual a pessoa se manifesta diante dos outros. Aqui está seu caráter, conhecimento,
valores, padrões de comportamento, os elementos do seu inconsciente, seu status. Muitas
pessoas se identificam com as características temporárias e frágeis de sua personalidade e não
conseguem capturar e valorizar sua pessoa propriamente dita. O estudo da Filosofia ajuda a
atingir esse horizonte novo, o que geralmente leva a um aumento na felicidade de alguém.