Abstract
Procura-se apontar, neste texto, o papel do medo enquanto marcador da legitimidade do princeps. Isto é, a partir da leitura do De Clementia, pretende-se demonstrar que, para Sêneca, tão distinta quanto a virtude da clemência é para o bom governante, o medo é para o tirano. Se a clemência revela a natureza racional e pacífica do governante, de modo inverso, o aparecimento do medo no corpo político revela a natureza destemperada e violenta dos tiranos. Assim, alinhado com os ensinamentos estoicos, o autor romano estabelece um conjunto de marcadores capazes de identificar, de um lado, o bom governante por suas virtudes, qualidades e pela tranquilidade e segurança de si e seu corpo político e, de outro, seu extremo oposto, mostrando que a presença do medo (tanto em si quanto no corpo político) é insígnia de governos tirânicos, levando-os à ruína assim como as paixões arrasam aqueles que as possuem.