Abstract
No bosque sagrado das Eumênides, situado em uma colina no distrito ateniense de Colono, Édipo se prepara para enfrentar seu destino final. Nesse processo, ele se utiliza dos princípios da tecnologia de si, conceito categorizado por Michel Foucault, e da epiméleia heautoû, termo cunhado por Platão em seu Primeiro Alcibíades. A peça Édipo em Colono (c 406 a.C.), última obra de Sófocles, redime o protagonista de suas transgressões e, por meio de sua transformação, antevê a futura supremacia de Atenas. Conforme observado por James Porter (2006), o interesse de Foucault pela cultura antiga é motivado pela busca dos mecanismos que possibilitam o pleno controle e a disciplina de si. Para Foucault, especialmente em sua obra A Hermenêutica do Sujeito (2002), o auge dessa cultura ocorreu durante o período helenístico até os séculos I e II da Era Comum, juntamente com o período socrático-platônico, que representou uma espécie de pré-história do cuidado de si. Por meio de um movimento de tessera, é possivel identificar aspectos da cultura de si na tragédia sofocleana, seja na preparação ritualística de Édipo para a morte, na argumentação em prol de sua inocência, ou na manifestação do Coro no quarto Estásimo, que preconiza a ascese e o comedimento. O presente artigo tem como objetivo examinar a recepção de Foucault aos clássicos e demonstrar como seus conceitos se manifestam na tragédia selecionada. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que se utiliza da metodologia genealógica para investigar as tensões nas relações entre sujeito e discurso. Inicialmente, o artigo contextualiza a cultura de si e, em seguida, apresenta informações a respeito da relação entre Sófocles e o culto aos heróis. Em sua terceira seção, examina trechos da peça, relacionando-os com o cuidado de si. Na quarta seção, é discutida a cultura de si no Primeiro Alcibíades de Platão e, na quinta seção, verifica-se a abordagem foucaultiana da mesma. Nas considerações finais, argumenta-se que são identificais aspectos da cultura de si sob a perspectiva foucaultiana na peça Édipo em Colono.