Abstract
O objetivo do artigo é discutir o pensamento político de Espinosa confrontando-o, por um lado, com o que poderíamos chamar a “ideologia dominante" da época, o pensamento cristão, aqui examinado a partir da correspondência com o dinamarquês N. Stensen, e, por outro lado, com o quadro teórico em que a questão política está então a ser recolocada, o pensamento de Hobbes. Além da conhecida explicitação do que o distingue em relação a Hobbes ( Carta L, a J. Jelles), é na Correspondência que Espinosa expõe a articulação entre a política e os grandes temas de sua metafísica, como são a doutrina da causa imanente e o binômio liberdade/necessidade. Lugar privilegiado de auscultação da opinião dominante e, por isso, exercício em si mesmo exemplarmente político, as cartas são também o espaço textual em que a metafísica se expõe às suas consequências políticas e a teoria se confronta com a prática, oferecendo uma visão de Espinosa que, se está longe do "positivista" hobbesiano, não está menos longe do visionário afastado da realidade que o circunda e o condiciona