Abstract
O presente artigo tem como objetivo justificar que a concepção de ética originária desenvolvida por Heidegger, alinhada à importância que Gadamer atribui à experiência particular, pode trazer uma relevante contribuição para a reflexão filosófica acerca dos temas que envolvem a ética, como tentativa de superação do modo tradicional de se conceber a própria ética enquanto tal. A forma pela qual a tradição metafísica tem historicamente abordado o tema da ética reforça a distinção entre teoria e prática, e a busca de princípios ou normas universalmente aplicáveis tem se mostrado insuficiente para elucidar o que torna possível a experiência moral. A linguagem conceitual generalista, da mesma forma, tem se demonstrado inadequada para tratar do tema, visto que tende a aproximar a ética da técnica própria das ciências, ignorando a relevância que a experiência particular pode trazer para o debate ético. Nesta perspectiva, a ética originária fornece elementos para a construção de um sentido de ética que almeja alcançar a singularidade da existência, superando assim a distinção entre teoria e prática, e colocando em evidência uma instância prévia, que permaneceu oculta em razão dos limites da própria metafísica.