Abstract
No prefácio das _Investigações filosóficas_, Ludwig Wittgenstein revela que ao “estímulo” do economista Piero Sraffa devia “as ideias mais fecundas” da obra. Curiosamente, porém, segundo Amartya Sen, Sraffa considerava seu ponto de vista – que enfatiza a relação entre a linguagem e o meio sociocultural em que ela é empregada – “um tanto óbvio”, achava tedioso conversar com Wittgenstein e nunca se entusiasmou por ter influenciado decisivamente sua filosofia tardia. Para justificar o comportamento de Sraffa, Sen argumenta que seu ex-professor julgava trivial a sua abordagem social da linguagem – que se opõe à abordagem lógica do _Tractatus logico-philosophicus_ – basicamente devido à sua formação marxista. Em divergência a essa explicação de Sen, sustenta-se neste artigo que o ponto de vista de Sraffa é realmente “um tanto óbvio”, tendo uma longa lista de precursores que remonta à Grécia Antiga. A fim de comprovar essa afirmação, são retomadas aqui tanto as obras de filósofos com os quais Wittgenstein dialoga em seus textos, como Platão, Aristóteles e Santo Agostinho, quanto autores prestigiados que ele aparentemente desconhecia, entre os quais os linguistas _William D. Whitney, Hermann Paul e Ferdinand de Saussure._