Abstract

No escopo das relações entre religião e política, o objetivo deste artigo é demonstrar o processo histórico de inserção do movimento fundamentalista no Brasil, no recorte temporal das décadas de 1930 a 1960. Para isso, parte da trajetória do pastor Synesio Lyra como um dos seus expoentes principais e um sujeito que circulou entre espaços eclesiásticos como seu representante, agente e intelectual. Com base em fontes documentais (jornais, revistas, atas, relatórios, boletins), sua trajetória foi conectada ao contexto e aos rumos do protestantismo ocidental no pós segunda guerra, bem como ao ambiente interno eclesiástico da UIECCB – União das Igrejas Evangélicas Congregacionais e Cristãs do Brasil e da Confederação Evangélica do Brasil. As fontes foram problematizadas como narrativas em disputas, desveladoras dos conflitos institucionais, teológicos e ideológicos. O fundamentalismo nesse período foi, paradoxalmente, um movimento cismático que buscou a adesão de denominações protestantes, além de se organizar por meio da CIIC – Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (1948) e da ALADIC – Aliança Latino-americana de Igrejas Cristãs (1951). O seu discurso estruturou-se no anticomunismo, no anticatolicismo e no antiecumenismo, em sua luta imaginária contra o modernismo dissolvente de suas certezas (e interesses), narrativas que ainda subsistem em nossos dias.