Abstract
A intenção deste texto é sugerir que uma abordagem retórica da operatividade da razão humana é mais capaz de dar conta do modo efectivo do seu exercicio nos vários dominios da sua aplicação. Tomando-se como pretexto a obra de Ch. Perelman, começa-se por acompanhar este autor na análise critica do percurso histórico da racionalidade ocidental e da forma como nele se foi estratificando a relação entre lógica e retórica, desde as referências platónica e aristotélica, passando pelo sonho cartesiano da mathesis universalis, are á sua radicalizaçã o na leitura neopositivista da actividade cientifica. Tal confronto critico com a historia da razão conduz à defesa de que a actividade da razão é radical e originariamente de tipo retórico-argumentativo, sendo a operatividade lógico-formal a cristalizada manifestação de superffcie dessa retoricidade profunda. O texto termina com breves sugestões acerca da possibilidade de analisar nestes termos a própria actividade de produção cientifica. /// It is the thesis of this article that the operations of human reason may be appreciated from a rhetorical and argumentative point of view. Taking as pretext the work of Ch. Perelman, an historical analysis is attempted in order to render explicit the way in which human rationality, from Platonic and Aristotelic conceptions of rationality to the Cartesian dream of mathesis universalis and the radical approach manifested in neo-positivism, is conceived. It is found that a stratifying effect in the relation between logic and rhetoric has been the result. Our critical treatment of this state of affairs leads us to propose that rational activity has always been at bottom rhetorical and argumentative and that insistence on the privilege of logical and formal operativity constitutes a surface cristalization of the deep dynamic quality of rhetorical operations in language which is, moreover, extensive to scientific discourse.