Abstract
O manuscrito clandestino Jordanus Brunus redivivus ou Traité des erreurs populaires foi publicado em 1771, não trazendo indicação alguma de sua autoria. Entretanto, a despeito do anonimato da obra, ela tornou-se um dos textos mais famosos dentre a filosofia clandestina do século XVIII, aludindo a um filósofo que foi uma das maiores vítimas da superstição e do fanatismo de sua época: Giordano Bruno. O título do escrito é uma espécie de homenagem ao pensador italiano, mas não há no decorrer da obra uma menção sequer que comprove que o autor anônimo tenha lido uma linha de suas obras, mesmo que seja considerado o elo filosófico de união entre o brunismo da primeira metade do século XVII e o da segunda metade do século XVIII. É em um encadeamento de ideias progressivo no Jordanus Brunus que nos permite encontrar o fio condutor das reflexões do autor: a sua formulação do ateísmo caracteriza-se por sua abordagem não dogmática, dissimulada, preparando o solo para o racionalismo ateu que estaria por vir. O presente artigo limitar-se-á à terceira e quarta partes do manuscrito, nas quais o autor anônimo vai tratar diretamente da questão da existência de deus e fazer diversas objeções às provas de sua existência.