Abstract
A representação em gravura de D. Isabel de Aragão não pode dissociar-se do processo político- -devocional que rodeia primeiro a memória e depois a formalização do culto da insigne soberana e do papel outorgado à gravura na comunicação de ideias e formas numa sociedade onde a sua circulação é necessariamente limitada. Com efeito, se os ritmos do processo canónico e da própria divulgação do culto seguem de perto os avatares do poder real – num processo reconhecível, de múltiplas formas, entre os alvores do século XVI e o declinar do século XVIII –, a produção imagética em torno da devoção à Rainha Santa e, dentro dela, a produção gravada (necessariamente dependente dos progressos dos meios tipográficos) permitem acompanhar, em termos genéricos e conjunturais, esse mesmo ritmo afirmativo de um culto que se revelaria estrutural na afirmação de valores centrais à dimensão nacional e à projecção exterior da soberania e que o próprio estatuto régio da sua titular favorecia. Neste contexto, a projecção em gravura da devoção à solícita e caridosa Rainha, ilustre pelo sangue e pelas obras, constitui, inegavelmente, um objecto do maior interesse, não somente no domínio da História da Arte, mas no da própria História.