Abstract

Neste estudo sobre o Sermão 288 de Agostinho de Hipona, pretendo investigar o papel desempenhado no discurso interior pelos conceitos ‘uox’ e ‘uerbum’, ambos fundamentais para se compreender o uerbum in corde agostiniano. Em junho de 401, na solenidade de João Batista, Agostinho proclama esse sermão diante da assembleia de Cartago. O objetivo era diferenciar Jesus e João Batista. Para isso, Agostinho analisa dois conceitos: uerbum e uox. Jesus seria o Verbum Dei e João seria a uox que clama no deserto. Para entender a relação entre o VerbumDei e a uox clamantis in deserto, passa-se para o uerbum humano, que está no interior da mente. O uerbum interior tem a propriedade de significar, de ser concebido no coração, de ser conservado na memória, de viver no entendimento, de não pertencer à nenhuma língua, de permanecer íntegro no coração, de se servir do auxílio da uox para se dar a conhecer a um determinado ouvinte, ao passo que a uox não apresenta tais propriedades. Ela seria uma das formas possíveis pela qual o uerbum interior se manifestaria. Ora, todas essas características representam o cerne da doutrina agostiniana do uerbum interior. Seria, portanto, em 401 o momento em que Agostinho já teria à mão os principais conceitos de uma teria que, nos anos seguintes, seria complementada através do De Trinitate 8–15.