Abstract
Este artigo insere-se numa reflexão teórico-epistémica e metodológica sobre as formas biográficas no âmbito de um projeto de investigação centrado na experiência de mulheres que vivem com cancro da mama. Em termos metodológicos, recuperamos o valor heurístico da narrativa e da técnica da entrevista como um dos recursos de investigação mais férteis para o estudo da experiência. Por sua vez, recorremos às narrativas, produto do processo de interlocução com 25 mulheres que têm ou tiveram cancro da mama, para analisar determinados processos que participam nas instâncias narrativas, bem como para enfatizar o carácter social na produção da subjetividade. O artigo contribui para considerar as formas biográficas e o seu particular contributo para os estudos da socioantropologia da saúde, a centralidade da narrativa na sua capacidade configurativo-temporal e o lugar que a experiência da doença pode assumir como rutura biográfica no quadro de uma globalidade biográfica, face a contextos e cenários socioculturais. Estes aspectos actuam e orientam os posicionamentos subjectivos nos modos de narrar-se para dar conta de si, como uma narração incompleta, imersa em descontinuidades e opacidades no processo de configuração biográfica.