Abstract
O propósito do presente artigo é examinar o caráter de teoria do real da ciência que, por não dizer respeito propriamente a um pensar em Heidegger, apreende a natureza como coisa externa ao homem, como mera reserva material processável a partir da urdidura do enquadramento matemático que a objetifica a serviço da técnica. Negada em seu valor intrínseco, a natureza que a ciência moderna submete à representação objetivadora é então preparada para o essenciar-se da metafísica no incondicionado da exploração tecnológica. Diversamente, contudo, do entendimento corrente, o domínio da natureza com vistas à eficácia do asseguramento da disponibilidade não é algo que emana da vontade soberana do sujeito no trato com os artefatos e processos de trabalho, mas de uma maquinação − ver-se-á aqui − cuja essência repousa no modo onto-técnico de manifestar o ser, ou a entidade dos entes, no interior do produtivismo niilista da metafísica que fez da ciência uma força operadora do calculismo da técnica. Em larga medida, foi sob os auspícios do projeto da modernidade que se sedimentou a ideia de que a técnica se tratava de algo cujo controle o homem detinha, na condição de instrumentum derivado da aplicação científica. Para este efeito, contribui decisavamente o paradigma da racionalidade tecnocientífica fundado na metafísica da subjetividade cartesiana, em vista do que o mundo, como imagem, é diligenciado como processo de construção forjado pela representação científico-matemática que é já, como tal, um influxo da vontade de poder da técnica como força cega e trágica que se quer a si mesma para o pleno cumprimento de uma forma de desvelar as coisas como domínio calculado.