Abstract
Em seus Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, Maquiavel discorre sobre as histórias de Roma na busca do sentido da ação, do saber da política entremeado à prática dos antigos. No proêmio ao primeiro livro e no proêmio ao segundo, o florentino tece algumas considerações a respeito das histórias e de como os modernos as apreendem, o que, para ele, se configura como um problema. Com efeito, para Maquiavel, o acesso ao passado não é imediato, seja pela leitura das histórias que busca apenas o deleite, e não o saber delas, seja pelo relato situado dos escritores, que retratam parcialmente as coisas antigas, seja ainda pela nostalgia que os idosos possuem de seus tempos de juventude, os quais eles consideram superiores à velhice, quando já não tem tantas forças. Assim, a relação entre passado e presente se torna problemática, pois os tempos antigos aparecem aos modernos como um passado glorioso, porém inatingível, irremediavelmente perdido e, portanto, em descompasso com o presente corrompido. Nossa proposta, então, é retomar o proêmio ao primeiro livro e o proêmio ao segundo livro dos Discorsi para investigar a relação entre presente e passado, e como Maquiavel elabora essa tensão por meio de uma noção de história que possibilita um saber da política comum a antigos e modernos, logo, uma noção de história que revele o fio de sentido comum que os atravessa no movimento histórico.