Abstract
O ceticismo desempenha um papel decisivo na filosofia pascaliana. De fato, amplamente influenciado por autores como Michel de Montaigne e Pierre Charron, Blaise Pascal acaba por contrariar a tendência geral do século do grande Racionalismo, levantando profundas objeções relativamente à pretensão – tipicamente cartesiana – de se conhecer a Verdade de maneira certa e segura. Como se pode depreender mesmo de uma rápida leitura de seus escritos, a obra pascaliana é toda perpassada por uma notável desconfiança de nossa suposta capacidade de adquirir certezas inabaláveis sobre o que quer que seja: desconfiança esta que, diga-se de passagem, está em profunda sintonia com a chocante posição do autor concernente às consequências do pecado original. Assim sendo, o que pretendemos neste artigo é: i) apresentar os argumentos céticos subscritos por Pascal em sua principal obra filosófica – os Pensamentos; e ii) analisando a obra Do espírito geométrico e da arte de persuadir, indicar que nem mesmo os conhecimentos oferecidos pela luz natural são capazes de nos livrar das dúvidas suscitadas pela argumentação cética.