Abstract
O artigo se ocupa da Hermenêutica da facticidade, do filósofo alemão contemporâneo Martin Heidegger (1889-1976). Nosso propósito inicial é apresentar, sumariamente, os termos do referido projeto filosófico e como este pretende uma abordagem do fenômeno humano enfocado como “vida fática” (faktische Leben). Neste modo de visar, importa para Heidegger a determinação dessa vida, a qual ele denomina de “facticidade” (Faktizität), conceito que, ao longo de sua investigação, vai, progressivamente, ganhando importância e centralidade. Tratado no seio de Ontologia: Hermenêutica da Facticidade (preleção do semestre de verão ministrada na Universidade de Friburgo em 1923), o conceito de facticidade tem lugar no tentame de elaboração de um modo de tornar nosso ser mais claro a nossa própria compreensão. Justamente por isso, uma tal hermenêutica de nós mesmos não constitui uma metodologia de interpretação de um objeto que pretensamente seríamos. Assim, hermenêutica diria, antes, do procedimento que, contando com a compreensão que temos de nosso próprio ser, pode tomar o sentido de nosso factum, de nosso fato de ser. Intentamos evidenciar o quanto a hermenêutica da facticidade é tão hermenêutica quanto também fenomenológica e que, a ideia de “tomar o nosso próprio ser nas mãos”. O artigo ainda se empenhará por deixar claro o quanto a facticidade não é um traço natural, substancial ou essencial do ente que somos; em sua caracterização fenomenológica, tal figura constitui, para Heidegger, uma dinâmica de “fazer-se”, o que nos leva a pensar no caráter em aberto e continuamente criador da vida em seu “dar-se”. Ao fim, ensaiamos, como nosso título anuncia, uma indicação do quanto a hermenêutica da facticidade teria a contribuir para o modo de compreender e comportar-se de uma psicologia fenomenológico-existencial.