Abstract
De duas maneiras distintas, Kant articula a liberdade de pensamento com a obediência civil. No texto sobre o Esclarecimento, o uso público da razão seria “a mais inofensiva de todas as liberdades”, colocando-se, juntamente com mote de Frederico II, em paradoxo com a liberdade civil. Passando ao Conflito das Faculdades, cujo prefácio tematiza a obediência à luz de uma carta de censura e de sua resposta, Kant defenderá uma prerrogativa da Faculdade de Filosofia de manter legitimamente um conflito com as faculdades superiores, i.e., com as ciências permeadas pelo poder e pelas ordens de um governante. A partir desses textos, almejamos ressaltar a especificidade de uma liberdade de pensamento tratada não tanto como liberdade civil, mas como uso público da razão. Compreendendo que tal uso não deve ser permitido ou proibido segundo o arbítrio de um governo, pensaremos em que medida a Filosofia enquanto Faculdade contribuiria para garantir essa acepção ativa de público.