Abstract
Diferentemente dos diálogos de Platão, considerados “exotéricos”, ou seja, escritos para o público exterior à Academia, os escritos de Plotino, segundo o depoimento de Porfírio, parecem ser apenas para alguns. Se buscarmos compreender as razões internas em seu pensamento para que sua filosofia e seus textos sejam direcionados para um público interno selecionado e reduzido, encontraremos alguns princípios fundamentais que estão intimamente relacionados com a sua concepção de conhecimento e filosofia. O “verdadeiro conhecimento”, aquele do qual dependem todos os outros, segundo Plotino, está para além do discurso e dos raciocínios e se dá como “intuição”, “visão” direta e “experiência” inteligível e só pode ser acessado por aqueles que, por um esforço heroico moral e intelectual (espiritual), voltam-se para si mesmos em um movimento purificador de retorno e simplificação e se unem a si e ao princípio superior no interior da própria alma divina. O que Plotino reconhece como o desejo intrínseco de toda alma e como o percurso da verdadeira filosofia: o de divinização e assimilação a deus (homoíosis theôi), unindo o conhecimento à bem-aventurança (makaría). O verdadeiro conhecimento, portanto, supõe a capacidade de desprendimento e liberação dos demais amores, desejos, dispersão e preocupações exteriores, bem como da identificação excessiva com as paixões e as afecções que nos chegam pelos sentidos. Além de exigir a superação, no limite do percurso, inclusive, do discurso. O que faz desse caminho um percurso reservado a poucos, e do “verdadeiro conhecimento” um bem intimamente atrelado à prática das “verdadeiras virtudes”.