Abstract
Neste texto o autor tem dois objetivos principais e interligados. Por um lado, defende que, embora as principais formas assumidas pela genealogia ao longo da história da filosofia pareçam torná-la impermeável à verdade, há um sentido importante em que a genealogia, especificamente tal como concebida e praticada por Friedrich Nietzsche e Michel Foucault, é uma política da verdade. A Seção II define política da verdade ao mostrar que o genealogista (nietzschiano e foucaultiano) pretende produzir novas verdades que funcionem como forças ético-políticas disruptivas, desestabilizando os modos atuais de pensar e de ser, e criando a possibilidade concreta para o surgimento de novas possibilidades de pensamento e ação. A Seção III, por outro lado, baseia-se nestas ideias para argumentar que os escritos psiquiátricos de Frantz Fanon também podem ser interpretados como práticas genealógicas da verdade. Para fazer isso, não apenas reune evidências mais claras e adicionais para as conclusões da seção II, mas também fornece uma estrutura alternativa para dar sentido à contribuição do próprio Fanon para a teoria crítica interpretada de forma ampla - uma estrutura que não o reduza nem à tradição do materialismo histórico, nem apenas à fenomenologia crítica ou à psiquiatria fenomenológica. Longe de reduzir, por sua vez, o trabalho de Fanon aos escritos genealógicos de Nietzsche ou Foucault, contudo, o autor defende que o objetivo de “fazer a verdade” deste último assume uma forma única nos escritos psiquiátricos de Fanon em virtude de estar explicitamente ligado ao seu projeto de politizar e empoderar os povos colonizados.