Abstract
Tomando como ponto de partida a noção de “psicologia das multidões”, desenvolvida inicialmente por Gustave Le Bon (1841-1931), este trabalho procura refletir, num sentido amplo, sobre a dinâmica entre a política e as relações intersubjetivas, afetivas e imaginárias da vida coletiva. Além disso, buscamos estabelecer o confronto entre dois filósofos pós-marxistas contemporâneos, Antonio Negri e Ernesto Laclau, os quais, afastando-se da perspectiva de Le Bon, fazem leituras distintas das noções de povo, massa e multidão, propondo, cada qual a seu modo, estratégias diferentes de atuação política, sem desconsiderar a dinâmica dos afetos que estruturam a vida social e política na atual fase do capitalismo. Frente a estas perspectivas, pretendemos mostrar que o conceito de multidão, de Le Bon, bem como as técnicas de propaganda e manipulação de massa por ele indicada, é uma ferramenta útil para compreender os fenômenos políticos contemporâneos, como é o caso do neofascismo, que surge em meio à crise da democracia representativa.