Abstract
Trata-se de compreender a importância do tédio na obra teatral Endgame (1957), de Samuel Beckett, a partir do ensaio “Tentando entender fim de partida” (1958), de Theodor W. Adorno. Como veremos, Adorno vislumbra na obra beckettiana um importante ponto de referência de uma virada estética que põe em xeque a realidade, a filosofia e a própria arte. Partindo do tédio moderno como elemento estruturante de sua obra, Beckett traz à tona o malestar objetivo do esclarecimento como impossibilidade de significado na vida humana em um mundo totalmente desencantado. Na era da falência da metafísica, as categorias tradicionais da filosofia (o universal e o imutável) e da arte (coerência, hermeticidade e necessidade), devedoras de um esteio metafísico para até então se sustentarem, tornam-se insuficientes para compreender criticamente a realidade perante a predominância de um novo paradigma ontológico que assombra a humanidade: o incontestável tédio da existência em uma realidade sem mistério e transcendência. È justamente esse o ponto crítico que Beckett toma como mote de sua peça para instigar a arte e a filosofia a repensarem a possibilidade de resistência ao estado de coisas imperante.