Abstract

O presente artigo procura apresentar algumas das principais características do diálogo de Paul Ricoeur com a psicanálise freudiana no contexto da sua hermenêutica filosófica. Num primeiro momento, o artigo começa por se referir ao contacto inicial de Ricoeur com a problemática da psicanálise na obra La symbolique du mal. Num segundo momento, considerando a obra Essai sur Freud, o artigo procura situar a psicanálise como uma arqueologia do sujeito a ser conjugada com as instâncias teleológica (Hegel) e escatológica (filosofia da religião). A cumplicidade das três instâncias representa o terceiro ponto do presente ensaio: o desejo transforma-se na instância comum entre elas. O quarto ponto explicita a articulação entre o arqueo-lógico/pulsional e o teleológico/espiritual no domínio da arte: o passado pulsional é subsumido nas dimensões teleológica e escatológica do sentido. O quinto ponto trata da figura do pai presente na imagem de Deus que se encontra na Bíblia: ele regressa de um modo que está para além do mero antropomorfismo, assinalado como está pela realização de promessas futuras. Uma tal figura provoca um repensar dos afectos arcaicos referentes ao medo da punição. Um sexto ponto oferece uma apreciação geral da hermenêutica filosófica de Ricoeur e da resistência que ela propõe a todas as formas de subjectivismo. Finalmente, o artigo refere-se ainda ao modo como fé e filosofia se encontram e se afectam mutuamente ao mesmo tempo que uma e outra mantêm as suas características distintas. /// The present article seeks to present some of the main features of Paul Ricoeur's dialogue with Freudian psychoanalysis in the context of his philosophical hermeneutics. To begin with, Ricoeurs initial contact with the problematic of psychoanalysis in La symbolique du mal will be treated. Secondly, considering Essai sur Freud, the article endeavors to place psychoanalysis as an archeology of the subject to be conjugated with teleological (Hegel) and eschatological (philosophy of religion) instances. The complicity of the three instances represents the thirdpoint of the present essay: desiring becomes the common theme between them. The fourth point explicates the articulation between the archeological/pulsional and teleological/ spiritual in the domain of art: the past pulsional is subsumed in a teleological and eschatological dimension of meaning. The fifth point deals precisely with the figure ofpaternity present in the image of God that the Bible produces: it returns in a way that is beyond mere antropomorphism, marked as it is by the realization of future promises. Such a figure provokes a rethinking about archaic affects concerning fear of punishment. A sixth point offers a general appreciation of Ricoeurs philosophical hermeneutics and the resistance it proposes to ali manner of subjectivism. Finally, the article deals with how faith and philosophy meet and affect each other positively while maintaining their distinctive features.