Abstract
Este artigo investiga a dimensão política do que Michel Foucault chama a "experiência da Carne", baseando-se na obra maior póstuma do filósofo francês História da sexualidade 4, As confissões da carne. Para isso, o artigo se concentra na pesquisa de Foucault sobre o relato cristão da obediência. Em particular, o artigo analisa a íntima interação conceitual entre obediência e vontade na investigação de Foucault sobre João Cassiano e Santo Agostinho. A primeira parte do artigo aborda o principal diagnóstico de Foucault sobre o relato da obediência de Cassiano. Segundo este relato, na vida monástica, a obediência perfeita requer que os indivíduos renunciem à sua própria vontade. A segunda parte do artigo tem seu foco na análise de Foucault da teoria da libido de Santo Agostinho. Para Agostinho, a condição de obediência, em particular a obediência às regras sexuais, depende do bom uso que os indivíduos fazem da sua própria vontade. As conclusões do artigo destacam o papel crucial da interação entre obediência e vontade, de modo a possibilitar compreender a forma de governamentalidade construída pela experiência cristã da carne.