Empirismo na História da Ciência Médica: Samuel Hahnemann e Claude Bernard
Abstract
O principal critério filosófico empregado por Harris Coulter em sua extensa análise da história da medicina é a distinção empirismo/racionalismo. Segundo o historiador, todo o desenvolvimento da ciência médica, de Hipócrates até o século XX, exibe, de forma implícita ou explícita, o confronto entre essas duas perspectivas epistemológicas. Elas teriam desempenhado papel determinante na metodologia de investigação dos processos patológicos e terapêuticos, bem como no estabelecimento das teorias médicas. No presente artigo examina-se brevemente a adequação histórica e a fertilidade analítica da tese geral de Coulter nos casos particulares daqueles que, segundo ele, teriam sido os principais expoentes do “empirismo” e do “racionalismo” médicos, Samuel Hahnemann e Claude Bernard, respectivamente. Sugere-se, a partir desse exame, que embora a percepção de Coulter da existência de um cisma na história da medicina pareça correta, a divisão não radica na oposição empirismo/racionalismo, mas, entre outros fatores, no tipo de evidência experimental considerada relevante para a medicina, na forma em que são concebidas as relações entre a experiência e a teoria médica, e na natureza das hipóteses sobre os mecanismos causais dos fenômenos patológicos e terapêuticos