Abstract
Há longo tempo considerado um dos sentidos menores e mais fracos nos animais humanos, o olfato na realidade assume na nossa modalidade de existência uma função bem menos marginal, antes central, nos comportamentos socio-emocionais, na evocação das memórias e na comunicação não verbal, e não último na nossa vida quotidiana, especialmente pelo seu papel na percepção do sabor dos alimentos. Graças aos progressos que a pesquisa alcançou nas últimas décadas, a ponto de justificar entre outras coisas o nascimento de uma nova área científica chamada neurogastronomia, o olfato, e especialmente o olfato retronasal, se configura como uma das nossas habilidades mais espécie-específicas, à qual devemos, inclusive, uma das maiores alegrias da vida: o prazer consciente de saborear e de apreciar alimentos e bebidas. Partindo deste tema, o objetivo deste ensaio è, portanto, mostrar em que medida uma experiência radicada no corpo, como a percepção do sabor, remonte às características espécie-específicas desenvolvidas pelo olfato humano no curso da evolução, configurando-se como uma forma complexa de cognição encarnada, cujas possibilidades dependem tanto da estrutura biológica, quanto do uso efetivo que fazemos deste extraordinário dispositivo corpóreo. _Palavras-chave:_ odores, olfato retronasal, percep;ção do sabor, gosto, neurogastronomia, anosmia, ageusia.