Abstract
SÍNTESE - O autor serve-se de dois textos de Sófocles, Édipo-Tirano e Édipo em Colono, e de dois textos de Freud, O chiste e sua relação com o inconsciente e O humor. Extrai dos textos de Sófocles uma prefiguração da noção de autoperdão e, dos textos de Freud, elementos de uma metapsicologia do autoperdão. O texto freudiano de 1927 aprofunda e amplia a concepção de sobreeu. Assim, é mais que uma instância de aparelho anímico cruel, severa, tirana, intolerante e inclemente. Eu e sobreeu podem associar-se segundo o modelo da identificação paterno-filial e, desta aliança, surgir o humor, como uma construção auxiliar para levar a existência sem maiores temores para o eu. Segundo o modelo deste pacto, o autoperdão, relação intrapsíquica, é condição necessária para uma relação interpessoal perdoante. Sem aquela, essa é vazia. Não é perdoando ao outro que se é perdoado, é perdoando- se que se pode até perdoar o outro. Assim sendo, a culpa, mal menor que a mortificação narcisista, mantém a inflamação do eu que, para se manter na posição de poder e de causador do "mal" no mundo, inflige-se autocastigos e reparações infindáveis e impossíveis. Diferentemente, com o autoperdão o eu associado ao sobreeu mantém a dívida de gratidão, não aceita o esquecimento e recusa a denegação.