Abstract
Na seção 1.4.1 Do ceticismo quanto à razão do Tratado da Natureza Humana, David Hume apresenta o argumento cético, conhecido pelos intérpretes como o “argumento da diminuição”, que pode ser divido em duas partes: 1) dado o caráter falível de nossas operações cognitivas, todo o “conhecimento degenera em probabilidade”; e 2) dada a incerteza e a dúvida que comumente acompanham os nossos raciocínios probabilísticos, todo raciocínio é, no fim das contas, reduzido a nada e, consequentemente, somos levados à “extinção total da crença e da evidência”. Apontaremos, em primeiro lugar, que o argumento cético contra a razão baseia-se no argumento cartesiano do “deus enganador” e, em segundo, que Hume rejeita que podemos endossar seriamente a “extinção total da crença e da evidência”. O que nos leva a propor a seguinte questão: em que consiste, para Hume, o status dos argumentos céticos? Responder tal pergunta implica em esclarecer outros dois problemas, pois, se não podemos atingir o “ceticismo total”, podemos, então, confiar em nossa faculdade de raciocínio? Se sim, sob quais condições podemos? Vê-se, afinal, que a solução de Hume consiste claramente em conferir limites à nossa faculdade de raciocínio, a fim de evitar sua autodestruição.