Abstract
Assumindo que o “tornar-se cristão” é o eixo que sustenta toda a produção literária de Søren Kierkegaard, o escopo deste ensaio é tentar delinear o conceito de paixão apresentado em Temor e Tremor como uma condição necessária para a efetivação dos movimentos dialéticos que possibilitam o desenvolvimento da fé. Efetivamente, é através do pseudônimo Johannes de Silentio que Kierkegaard apresenta sua ode à fé. Neste sentido, é sobre o esteio da narrativa apresentada em Temor e Tremor acerca da fé demonstrada por Abraão (quando Deus solicitou-lhe a vida de Isaac em sacrifício) que destacaremos a importância que o mencionado pseudônimo atribui à paixão como fundamento que precede e, substancialmente, compõe a fé última: aquela que só emerge ante ao absurdo, mas que, uma vez conquistada, assoma como possibilidade para a fuga do desespero da existência e para a construção de sentido para a vida humana.