Kant e a Quantidade como Categoria do Entendimento Puro
Abstract
É lugar comum que, segundo Kant, a possibilidade da ciência depende da aplicação de certos conceitos que são derivados do ?modo de funcionamento? de nossa capacidade de pensar sobre objetos. Também é lugar comum exemplificar tal afirmação pela noção de causalidade: como Hume fizera Kant perceber, não podemos justificar a aplicação da noção de causalidade com base na experiência e, para Kant, isso não é possível porque a experiência já a pressupõe e a experiência já a pressupõe porque essa noção é condição de possibilidade do nosso pensamento estar relacionado às coisas. Segundo Kant, isso não vale só para a noção de causalidade, mas para doze categorias, entre elas as categorias da quantidade. Da aplicação dessas categorias puras a um múltiplo temporal, obtemos o conceito de número, e é a aplicação dessas categorias à forma dos objetos dados na experiência possível que explica a possibilidade de seu tratamento matemático-geométrico. Que o próprio conceito de número seja o resultado da aplicação de categorias derivadas do entendimento puro implica, em última análise, que, se usamos o conceito de número na ciência, é em função de um modo de pensamento finito como o nosso. O objetivo deste artigo é, em geral, indicar como podemos, a partir da consideração da forma de um pensamento finito como nosso, chegar à necessidade da aplicação das categorias da quantidade. Em particular, gostaria de sustentar que, ao contrário do sugerido por muitos comentadores, ao derivar as categorias da quantidade das formas do juízo quanto à quantidade, Kant não poderia senão identificar as categorias da unidade e da totalidade às formas de juízo universal e singular respectivamente. Por fim, gostaria de indicar também por que a relação entre as categorias da quantidade e nosso modo de pensamento finito permite explicar que Kant, a partir de certo ponto, deixe de falar em ?unidade?, ?pluralidade? e ?totalidade? e passe a tratar de, simplesmente, a categoria da quantidade